6 de mai. de 2012

Da demasia.


Eu sou alienada demais para ser artista. 
Sou desregrada demais pra ser concursada. 
Sou lúcida demais para entorpecentes. 
Desatenta demais para a rotina. 

 Sou careta demais para as modices. 
Sou moderna demais para as caretices. 
Sou jeca demais para a capital. 
Cosmopolita demais para o interior. 

 Sou sincera demais para os lunáticos. 
Sou intolerante demais para as burrices. 
Escorpiana demais para os piscianos. 
Interessada demais pelos desinteresses. 

Sou espontânea demais para horas marcadas. 
Indecisa demais para improvisos de percurso. 
Fechada demais para novas amizades, 
Aberta demais para o novo* 
*(Aberta demais para o que está por vir.) 

 "Língua-solta" demais para joguetes. 
Sou palavras demais para uma lauda.** 
**(Sou caracteres demais para um post.)

Bruna Veloso
06/05/2012

22 de fev. de 2012

Da liberdade do não.

É que a reticência tem o poder massacrante de permanência. 
O talvez prospera... gera (im)probabilidades. Permanece. Paira. 
Mantém laços que não existem como auras mortas sobrevoando as expectativas frustradas de quem só ouve silêncio. 

E do outro lado, a reticência deixa o espaço, o quarto vazio, a porta aberta. 
O silêncio que está na reticência é o conforto do colo quente daquela que não sabe se espera pelo sim, ou pelo não. 

Já o NÃO é mágico: 
O bendito não, quando bem dito, apazígua as almas de quem ouve e de quem fala. 

Talvez o conforto não seja o mesmo dos dois lados: 

- A paz é maior para aquela que, outrora, esperava ansiosa na permanência da dúvida e agora se vê livre. Ela não quer que nada de mal aconteça, não deseja mal a ninguém. Ela espera que ele tenha aprendido a dizer mais nãos. Deseja que ele tenha aprendido a dizer mais "sim" pra vida e menos "talvez". Deseja que tudo de bom o aconteça. Está bem, está feliz, está de portas abertas pra novos ares, se sente imensamente livre, evoluída, bem-resolvida. 

- Do outro lado se sabe pouco. Ele se abstém de dizer muito mais. Dizer "não" já pareceu tão difícil... Fechar ciclos não é seu forte. Ele também não a deseja mal, nem pretendia prendê-la com tantas dúvidas (tão genuínas). Não havia o princípio da maldade, ela sabe. Talvez somente uma acomodação qualquer. Ele parece ter resolvido algo com o ciclo que ela sugerira no dia do NÃO que ele devesse fechar (resolver, reabrir). Parece que agora se casa... (?) Que Deus o guie no melhor dos caminhos. 

A reticência que existe é uma saudadezinha boa da amizade que há de permanecer em algum momento do futuro. Não hoje. Talvez sempre. Outra pausa, outra reticência. Eles se entendem com seus pontos e vírgulas.

27 de nov. de 2011

Da re(descoberta) da ingenuidade.

É que quando eu penso que já fiz de tudo, alguém me lembra de que ainda não fui literal. E quando penso que já conheço os capítulos a seguir, descubro que nada mudou no fim das contas. E por mais que eu tente prever um novo fim, você sempre me vem com novos começos para o mesmo fim (fim de finalidade). E eu - e isto é o mais incrível - não finjo que acredito nas suas boas intenções. Eu realmente acredito; Novamente acredito; Contradigo todas as estatísticas, conselhos, previsões do horóscopo tabajara e acredito. Não é a toa que se diz que quem cria expectativas, se decepciona. Crer, ou não crer? Heis a questão. Me pego mais uma vez sendo completamente ingênua.

15 de nov. de 2011

Do preço que se paga pelo passado

É que por mais que eu explique a diferença, você sempre se lembrará do começo. Sempre temerá minhas histerias. Sempre hesitará em me dar as mãos. Por mais que eu seja outra e você saiba disso, o que eu fui ainda é um fantasma do que você não quer mais. Por mais que eu entenda o que não mudou em você, ainda há aquele pavor de que eu volte a questionar o inquestionável. Mas por mais que tenha doído muito, o saldo é positivo. Por mais que a história seja longa, todo dia parece um começo. Por mais que os fatos se repitam, lembro mais das partes boas. Por mais que eu pense que sei suas linhas de cor, você sempre diz algo inesperado. Será que sempre serei culpada do que fui um dia, ou que ainda há conserto? Será que fomos em vão, na tentativa de viver tudo em um segundo? Será este um recomeço ou apenas o começo do fim? Cansei-me da dor. Ainda não conheço o gosto de sermos só delícia.

14 de nov. de 2011

Da falta de sacanagem

Há uma grande desvantagem: você sabe tudo de mim. Sabe onde me tem, sabe onde me cala, sabe como me tirar do prumo. Meus quereres são sabidos, desveladamente. Seriam eles lançados como flechas em meu peito ao seu bel querer? Seria você capaz de atirá-los contra mim como armas letais? Ou será possível que você, ao contrário do que eu penso, esteja repensando os seus quereres? Acho a dúvida uma falta de sacanagem.

28 de set. de 2011

Da permanência da certeza (ou da permanência da dúvida)

Eu sei que você sabe quando o recado é pra você. E eu, que não sou de mandar recados, guardo aqui minhas palavras. Tão abertas quanto meu coração, tão escondidas quanto meu sentimento. Sinto sua falta todos os dias. Sinto sua presença mesmo que invisível. Tenho vontades inacabadas, tenho dúvidas sobre as certezas que apregoo por aí. Tenho certeza de que não estou só. Tenho certeza de que não há certeza. Tenho certeza da dúvida. Do resto, pouco sei. Ainda aprendo todo dia... Sempre (re)conheço novas faces em mim, em você, na vida, no mundo. Cada dia é mais um dia de ausência. E qualquer presença me faz bem, embora me tome de mais dúvidas. "Sinto sua falta, não posso esperar tanto tempo assim. O nosso amor é novo, é um velho amor ainda e sempre."

28 de ago. de 2011

Do intangível

Das coisas que mais me tocam, eu sei dizer pouco.

Sei que acredito que quando mais profundo é o elo, mais de longe vem o cheiro...

Difícil explicar, fácil de entender:

Tem coisa que "nasce" com a gente. Tem gente que "nasce" pra gente, tem coisa que a gente precisa passar pra ser crescer, ou pra ser feliz, ou mesmo apenas pra 're-viver'.

É tudo tão nítido: nascer não é o começo. Conhecer não é o começo. Pode ser só mais um encontro.

Estasiada com a beleza do mundo, inconformada com as mazelas, vou seguindo meu caminho: certa de que ele começou muito antes de 85 e está longe de acabar...

Tudo é tão crível, embora pareça incrível! Ter fé no que se crê é muito mais fácil e muito mais bonito.

20 de mai. de 2011

Quando o amor não passa

Quando o amor não passa, fica a certeza de que algo transcende o ódio.
Algo transcende a falta.
Algo transcende os novos amores possíveis que não se possibilitam.

Quando o amor não passa, o coração é refúgio da saudade.
A missão é entender a necessidade, a falta, a realidade, o sonho.

Quando o amor não passa, resta a canção, resta o coração, resta a saudade do colo, e do cheiro.

Quando o amor não passa, pra onde passo eu, no próximo passo?

8 de abr. de 2011

Eu sou mil:

Quanto mais cansada, mais quero movimento.
Quanto mais corro, mais quero correr.
Quanto mais me enfrentam, maior eu fico.
Tenho uma pequena e dolorida pedra apertando o dedinho do pé esquerdo. Que guardo no coração.

Tenho um coração enorme, que guarda pedrinhas, e um pequenininho, apertadinho, espremidinho, que tudo o que quer é se desapertar.

Coração grande quer voar. Coraçãozinho quer amar. E a cabeça, e a alma, e o corpo, deixam tudo voar.

6 de abr. de 2011

Da arte da observação.

A cidade das Sete Lagoas, tem um milhão de buracos.
A TV fala de abusos tão desumanos (e tão humanos) que ferem a alma, e me impedem de deixá-la ligada.

O meu ibope, só tem música boa e amigo fiel.

No caminho da dureza de crescer, vou caminhando e calando.
Ouvindo os que tem algo a ensinar. Escutando.

Pensando na real necessidade de questionar tudo, de assimilar tudo, de elocubrar sobre todos os assuntos, todos os sons, todos os figurinos, comentários, posts, pra ser mais atual.

Pensando que nem sempre os amigos fiéis falam só o que é para o seu bem: tudo o que você diz é para o SEU bem?

A arte de crescer ensina a arte de calar. A arte de calar ensina a arte de observar.
E eu, escuto os sons que me indicam, recordo momentos felizes em fotos feias, me divirto com as bobagens do dia-a-dia. Passo por cima das maldades, rezo por mim, pelos amigos, e pelos malfeitores.

Com fé em Jorge, café na caneca, sono forçado: sonho alto.

29 de mar. de 2011

Das coisas que sei de mim

É que quanto mais eu sei de mim, menos consigo saber de você.

28 de mar. de 2011

Das questões do tempo.

É que mesmo que faltem milhões de pedaços dentro de mim, me falta ainda mais tempo para encontrá-los.

Acho que este é o princípio da necessidade de se dar tempo:
É preciso tirar do tempo que se dá aos outros, o tempo de dar atenção pra si.

É preciso tirar de si, o olhar impiedoso dos outros sobre o que se faz do próprio tempo.
É preciso ter tempo de se olhar, de fora, e ver como o tempo (e as conseqüências dele) te fizeram crescer.
É preciso olhar os outros (e os problemas dos outros) como outros problemas, que não os seus problemas.
É preciso ir-se amadurecendo: amadurecimento pede tempo.

É preciso ter tempo de se questionar, é preciso ter tempo de se perdoar, é preciso ter tempo de se sacrificar.

É preciso ter tempo de entender o fundamento do que se faz.
A cada segundo.

12 de jan. de 2011

Sabe?

Você sabe me tirar o ar.
Sabe me tirar do chão.
Sabe me tirar o juízo.

Você sabe diminuir meu fôlego.
Sabe ampliar meus planos.
Sabe angustiar meus sonhos.

Você sabe o que eu quero de você.
Sabe o que eu tenho pra te dar.
Sabe o que fizemos mal-feito...

Você sabe me desestruturar,
Sabe me desmanchar,
Sabe me despir (de pudores, de poderes...)

Quando será que chega o dia,
pra alívio completo da minha vida,
em que você sabe se vai, ou se fica?

31 de dez. de 2010

Retrospectiva 2010:

essa coisa de ano novo, pra mim é data inventada.

mas pensar que tem coisa que não acaba com o ano, que tem coisa que não passa nem com promessa, que não tem solução pra tudo, dá vontade de entender o porque é que nem tudo precisa de solução.

ou que solucionar nem sempre é por fim, que solucionar pode vir a ser começar, ou recomeçar.

aproveitando a "invenção de moda" para fazer um balanço, tenho muito o que agradecer.
2010 foi um ano lindo. inesquecível. mas o que faltava na última virada, ainda falta hoje.

espero estar achando o caminho.

22 de nov. de 2010

4 anos se passaram e me sinto na obrigação de repetir:

eu, um pedaço de quase nada,
hoje sou ainda menos.
me falta um pedaço, um laço, um braço.
me falta um abraço.
me sobram sonhos, me falta chão.
falta pé na terra. sobram elevadores.
e eu relevo e me elevo.
E o chão, cada dia mais longe,
é ainda alento.
e eu tento.

21 de nov. de 2010

Cabeça vazia, oficina da auto-crítica?



Dentro, bem dentro, há um misto de desapontamento e decepção.
Parecidos, mas diferentes.

Não quero crer na tormenta, com tanto sol batendo na nuca.

Procuro entender o que falta; descubro que este é meu estilo de vida.
Ando vivendo de fugir do que não quero, e não de buscar pelo que quero.

Não sei se sou eu que escondo minhas capacidades, ou se são os outros que não as querem ver. Mas continuo dando tudo de mim, mesmo que doa.

Continuo incompreendida, incompreensível, incompreensiva.

Infeliz? Me recuso! Mas vivo em busca do que falta...
Queria que a falta tivesse nome, queria não me envenenar do sistema, queria amar sem este medo que me entorpece, queria me expor por inteiro, sem medo algum da opinião alheia.

Me sinto fraca para lutar contra mim mesma. Me sinto culpada da minha falta de fé na vida. Me sinto incomum, inadequada, deslocada. Não sou o que esperam que eu seja, não quero o que se espera que todo mundo queira da vida. E fica a questão: onde achar um ponto de equilíbrio para ter o que todos tem, viver como todos vivem, sem sofrer o remorso de estar me obrigando a ser quem eu não sou?

27 de set. de 2010

Com ou sem parênteses?

Faz tempo, foi-se embora aquela expectativa toda.
Aquela euforia a cada pequeno passo. (Seria esta a química da paixão?)

Foram-se as lágrimas, ficou uma mágoa pequenina e insignificante.
Foi-se a agonia à espera do amanhã, vieram as certezas das precipitações de ontem.

Foi-se o ódio ao me confrontar com seu telefone desligado;
Ficou somente a constatação. (Sem julgamentos!)

Foi-se a certeza de que fiz tudo certo. (Ficou a certeza de que fiz tudo que pude.)
(Foi-se a certeza de que não te magoei) Ficou a dúvida sobre o que te fiz sentir.

Faz tempo, entendi que algumas coisas permaneceriam...
Impregnadas nos tecidos, nas narinas, nos desejos, nos sons, nos lugares.
(Desisti de lutar contra; bobagem! Somos mesmo bastante parecidos.)
Melhor pensar que algumas coisas também permaneceram em você.

Há pouco, admiti pra mim mesma os meus atropelos;
Entendi que te fiz mal, querendo te fazer mais homem.
Tive vergonha de mim; entendi que eu mesma ainda não era tão mulher assim.

Aquelas coisas, as que permanecem, hoje não me tocam mais tão profundamente.
(Pode ser que toquem, mas simplesmente pelo que realmente são, não mais pelo significado que eu gostaria outrora de decifrar em cada vírgula.)

Bom saber que minha música ainda toca no seu repertório,
Que você ainda se encaixa no meu colo.
(A paixão que me tirava os sentidos foi-se embora, mas) O gosto é o mesmo.

Aliás,
Acho que agora gosto mais de você arroz-com-feijão do que capelleti de espinafre.
(Ficou na minha memória um gosto latente de boca suja de cotidiano.)

Gostaria bastante do sabor suco de laranja fresco no café-da-manhã preguiçoso de um domingo qualquer (completamente despretensioso):

E você pediria (com aquele tom manso de quem sabe o que quer) que preparasse seu suco (porque não compactua com meu café), sem hesitar em me ofender com seu comodismo.

E eu já o teria feito (enquanto fervia a água, juntava as bagunças e te via dormir aquela hora a mais de sempre) sem hesitar em concordar com seu comodismo, sem reclamar da sua preguiça, sem te chamar de filhinho-da-mamãe. (Porque gosto de você manso, espalhado, menino criado a pão-de-ló)

E ouviríamos as músicas que um dia me enlaçaram no seu bom-gosto musical,
E daríamos risadas da fuga estratégica da animação do sábado dos nossos amigos.
E manteríamos o ritmo lento e a respiração carregada que deve ter um bom domingo,
Sem pensar no amanhã.

(Porque agora, tomada deste sentimento sem-nome mais maduro mas ainda completamente puro, entendo que é assim que todas as coisas devem ser.)

14 de set. de 2010

Do dilema da falta

Vai-se abrindo, cá dentro, um ponto ínfimo de dúvida.
A dúvida vira buraco.
O buraco é falta.

A falta é certeza da ausência.
De que? De quem?

Já nem sei.

Sei que o buraco cresce, e machuca.
Sei que o buraco está em mim, mas não é meu.

A falta que faz o encaixe do buraco é fome negra,
É sapo engolido, é dor de cotovelo,

É falta. É dúvida. É solidão.

13 de set. de 2010

Naquele lugar

Por aquela estrada,
Naquele caminho sem luzes e sem placas,
Vamos perdendo as referências,
Nos desnudando dos nossos preconceitos habituais,
Voltando a ser nós mesmos.

Por aquele caminho certeiro,
Passando por aquelas cidades minúsculas,
Vamos dizendo das coisas da vida,
Vamos pensando nas coisas do tempo,
Vamos ouvindo as canções que nos embalam.

Noite afora, chegamos naquele lugar:

Aquele lugar que é só nosso.
Aquele lugar onde as coisas acontecem.
Aquele lugar onde as mãos se tocam,
Onde a noite é silêncio,
Onde a cama é simples e os pensamentos vazios.
Aquele lugar onde podemos ser nós - juntos.

Em que nada é preocupação, em que tudo é amor genuíno.
Naquele lugar em que nós somos nós e existe um sentimento puro, livre da opinião alheia, banhado pelas águas limpas, cultivado com pé-no-chão.

Naquele lugar...

12 de set. de 2010

Das dúvidas do sentir

- Eu teria direito, ou simplesmente agiria por impulso?

Sentira falta, admitira. Apesar de guardar consigo uma mágoa de dor mal-resolvida, não conseguia sentir aquela obrigação dos orgulhosos de se afastar e se enraivecer.

- Se o orgulho não vence a falta, será que o sentir seria maior que a dor?

Se desdobrara em sentimentos confusos, em braços escusos, mas não mais firmara certeza em outro alguém. Quisera sumir, abandonar; quisera não-sentir. Não podia.

- Não podia, ou não queria?

Quisera não querer. Quisera esquecer, apagar, afanar o sentir e afagar o orgulho próprio. Mas nada a fizera enxergar este orgulho vencendo o sentir.

- E o sentir, é possível nomear?

Quisera entender, compreender, quisera esclarecer, nomear, renomear, soletrar, se fosse possível. Tinha sempre uma venda nos olhos dividindo o sentir em partes impossíveis de se juntar e classificar.

- Qual o problema da dúvida?

Tentara entender como conviver com a dúvida. Não conseguia. Tentara perdoar, tentara esquecer, tentara não sentir. Nada resolvia. A dúvida a impedia de agir.

A cabeça não deixara falar o coração.

Buscava, então, nos braços daquele afago de outrora, entender a 'querência' do seu sentir.

29 de jul. de 2010

e se...? ou - lá em pandeiros!

e se eu fosse capaz de dizer o que ninguém disse ainda?
e se eu pudesse?

e se eu entendesse à tua alma melhor do que conheces, maior do que compreendes?
e se tu não quisesses?

e se fosses capaz de ver, nas entrelinhas dos meus olhos tristes, quais são meus reais desejos?
e se eu permitisse?

e se meus olhos se abrissem ao tocar dos teus e fossem juntos, bem mais que dois?
e se pudéssemos tentar?

e se tudo o que disseram sobre nós fora uma doce verdade?
e se quiséssemos?

e se tentássemos, e fugíssemos, e nos escondêssemos além da mata, ao lado da cachoeira, onde mais planejamos nos guardar do mundo, nos abrir um pro outro?

e se ficássemos, pra sempre, e se nos uníssemos, e parássemos o tempo, e se não pensássemos mais em nada?

13 de jul. de 2010

Se você viesse

Eu limparia a terra,
Eu plantaria a horta.
Eu pintaria as janelas de azul anil.
Eu varreria os ventos das canções mal-acabadas e sopraria a poeira de dias infelizes.

Eu trocaria os lençóis,
Eu pensaria em canções,
Eu planejaria o quarto que um dia seria dos meninos.
Eu tentaria não chorar todos os dias ao ver-te entrar.

Eu suspiraria todas as noites,
Eu cantaria todas as manhãs,
Eu esperaria todo anoitecer,
Eu dormiria por alguns segundos com as tuas mãos em meus cabelos inebriada com teu cheiro.

Eu seria tua,
Eu seria minha, com os pés na terra e os vestidos voláteis.
Eu seria a mãe das meninas de cabelos revoltos e dos meninos dos pés descalços.

Eu ensinaria a plantar,
Eu colheria do pé,
Eu escolheria o sabor.
Eu alimentaria a eles, e a ti, como a mais devota das mulheres.

Eu teria mais fé,
Eu seria mais mulher,
Eu teria mais amor,

Se você viesse.

21 de mai. de 2010



De que adianta se esconder do mundo, se munir de argumentos, se armar de escudos, e máscaras, e tantas faces, se quando o mundo quer, corre água por todo lado, que pode te tomar de gratas surpresas ou desgraças e moléstias imprevisíveis e pode ser que não haja pé capaz de correr do que está por vir?

será que está aí o erro?

acho que não me meto em relacionamento nenhum, aliás, nem cogito, sem antes pensar nos filhinhos, no sossego, na casa escondida, na horta no quintal. (às 02:45 da manhã numa conversa um tanto filosófica)

11 de abr. de 2010

das coisas que carrego comigo

carrego aqui dentro uma certeza:
de que a vida é sempre bonita, mesmo que por caminhos tortuosos.

carrego comigo a fé:
em mim, nos outros, no homem, no Homem.

carrego nos ombros dores dos outros, paixões mal-resolvidas, saudades eternas.

carrego um sorriso largo:
sorriso que não sabe se fechar, mas que nem sempre é sinal de felicidade; mas que jamais é falso. sorriso pra mim é filosofia de vida.

carrego nos olhos baixos tristeza:
talvez uma tristeza tão profunda que eu mesma não conheça bem;
talvez uma tristeza simétrica, ou assimétrica: tenho poucos e claros cílios, apesar da minha carinha de boneca.

carrego em mim uma paz de espírito que quase nunca se vê; sou furacão.

9 de abr. de 2010


em tese a vida é fácil:

acordar, comer, banhar, trabalhar, comer, banhar, dormir.

por vezes, amar. raras as doces vezes de amar.

será que é isso o que dificulta vida?

por vezes, sonhar. sonhar é um alívio pras querências.

por vezes, sofrer. sofrer é realmente preciso?


"o amor na prática é sempre ao contrário" Cazuza
pensa comigo:

frio dá fome,
fome dá gula,
gula dá vontade de comer doce.

frio com gula dá vontade de brigadeiro de colher.
brigadeiro de colher gasta meia-hora em cima da panela, mexendo sem parar.
e minha cama tá uma delícia.

e de segunda pra frente, vou ter que acordar 6:30 da manhã. todo dia.
e trabalhar o dia inteiro. trabalhar muito por um salário mísero.

mas num emprego bacana! poxa, um emprego! nem lembro a última vez que tive um... trabalho, faz tempo, sempre to trabalhando de um jeito ou de outro. mas emprego faz tempo... mas não desmereço meus trabalhos... em termos de dinheiro, talvez venha a ganhar até menos... mas, pô! empreeeego! fala isso pro seu pai, se ele prefere uns trampos ou emprego? aff! to feliz!

mas por outro lado, dói. é feio saber que meu currículo bacana vale muito em tese, mas que mal-mal eu pagarei as roupas que preciso comprar pra trabalhar bem-vestida.

aff... é só um desabafo! daqui de cima da minha cama confortável, de meia nos pés, no escurinho, curtindo preguiça no meio da tarde. talvez a última das minhas tardes de paz. talvez sonhando com a correria que virá.

pensa comigo: melhor ficar deitadinha aqui, não?

25 de jan. de 2010

4 de jan. de 2010

O ser sem palavras

Eu, tal qual Palomar, aquele de Calvino, queria morder a língua três vezes e emudecer antes de falar. Queria que me acabassem as palavras tal qual me inundam os pensamentos.

Eu, tal qual devia ser, sou mais sentimental que ele(s). E os deixo embalar a trilha sonora dos momentos de silêncio - ou de agonia - já que falam bem por mim.

Enquanto trabalho em excesso, me sobe pelo esôfago aquela intragável sensação de que ficar calada - e sozinha - literalmente dói. É como se, ao emudecer, engolisse ar para não falar - engolisse sapos para ter o tempo necessário de pensar.

Eu, tal qual no outro ano, passei por este a tão pouco findado a esmo: pensando muito, lendo pouco, tentando entender sempre mais de mim - talvez para tentar entender sempre mais dos outros.

Tentei outra vez que amor não doesse - e doeu. Pensei em desistir... mas não seria eu.

Me faltam palavras da boca pra fora - graças a Deus - mas sobra a certeza que nem sempre tudo precisa ser dito.

Bruna Veloso

22 de nov. de 2009

Porque Cazuza é a lição, mas Vinícius, a cartilha.

“E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu...”



“Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um grande amor.”



Lição? “Quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida.”

26 de out. de 2009

Beijos de Beco

Beijos de Beco
Kátia B
Composição: Katia B/ Laufer/ Fausto Fawcett

Eu uso batom e deixo minha boca vermelha
Eu digo que é bom e faço o que me dá na telha
E deixo que digam ,que pensem , que falem
Deixo que maltratem, desacatem por aí
Pois ninguém sabe, ninguém vê
O que eu sinto por você

Orgulho da soberba vontade
Imperativa que habita teu gozo
Inconsciente, é sonho inconsciente
Feminina fantasia que encurrala tua vida
Em beijos de beco,em beijos de beco
Na fronteira do desejo, do mistério, da vontade

Sei que a sua mente, sou a sua mente
Sei que a sua mente, sou a sua mente, sei da sua mente, seja sua mente

Sorrateria ênfase do impulso selvagem
Abandono tudo pra provocar
Sensação feminina que fascina
Sensação…

Sei que a sua mente, sou a sua mente
Sei que a sua mente, sou a sua mente, sei da sua mente, seja sua mente

dancing all night
kissing free
dance with me to make me happy
let me know you by the touch of your hands
while the world is running round and round
in your arms I disappear
eu me lembro
de voar
nos teus braços
bem devagar